PROJECTO 28. "Poema Podendo Servir de Posfácio" - Mário Cesariny, por Rui Reininho @ Porto

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

PROJECTO 27. Para este projecto contámos com uma participação especial de Rui Reininho que declamou Mário Cesariny pelas ruas do Porto.
FICHA TÉCNICA:
Realização e Edição: Ricardo Espírito Santo
Sonoplastia : Sónia Pinho
Selecção de Textos e Produção: Liliana Coimbra

Poema podendo servir de pósfácio

ruas onde o perigo é evidente

braços verdes de práticas ocultas

cadáveres à tona da água

girassóis

e um corpo

um corpo para cortar as lâmpadas do dia

um corpo para descer uma paisagem de aves

para ir de manhã cedo e voltar muito tarde

rodeado de anões e de campos de lilases

um corpo para cobrir a tua ausência

como uma colcha

um talher

um perfume

mário cesariny

manual de prestidigitação

assírio & alvim

1981

PROJECTO 27. Violet's Poem - de Walt Withman, lido por Violeta Costa VIA PÁGINA DE SUBMISSÕES

PROJECTO 26. Spring Poetry - MAKING-OF

PROJECTO 26. Spring Poetry, de Al Berto, c/ alunos Creche Mil Pézinhos @ Odivelas

PROJECTO 26.
Para este projecto fomos até à creche Mil Pezinhos em Odivelas mostrar como a pequenada também gosta de Al Berto. Vejam como correu bem. Brevemente lançaremos o making-of.
REALIZAÇÃO E EDIÇÃO: Nuno Lopes
SONOPLASTIA: Sónia Pinho
SELECÇÃO DE TEXTOS: Liliana Coimbra
Copyright.2012
A sense of warmth is tapping at the door;
And hope, a feeling out from distant lore
– Or so it seems – clears the deep refrain!
Emerging youth: a dormant lea awakes.
The raging colour, singing loud, partakes
In annual birth – spring is born again!
A zest anew for nascent life
Begins in floral train:
Carriage one: a snowdropp thrill;
Carriage two: the crocus;
Number three, a daffodil – dancing,
Drawing focus – as she would,
Attention seeker!
How I love our spring:
The bold and sleeker feel I get,
An inner glow, a ring!
I’ve paid the winter’s chilly debt, so
Now upon the wing!

PROJECTO 25. Poesia - Lucia Abello @ Lar de 3ª Idade de Forte da Casa

PROJECTO 24. Ocupa Rio - Manoel de Barros @ Calçadão, Rio de Janeiro

PROJECTO 23. O Tejo - Alberto Caeiro @ Cais do Gás (Lisboa)

domingo, 8 de janeiro de 2012


PROJECTO 23 O Tejo , de Alberto Caeiro
Ciclovia do Tejo (Cais do Sodré - Belem)
Passeio de bicicleta na margem norte do Tejo ao som de "Cais" do projecto "Os Poetas" de Rodrigo Leão e Gabriel Gomes.
Filmado por Nuno Trindade Lopes.
Editado por Abilio Vieira.

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro

PROJECTO 22. Consideração do Poema - Carlos Drummond de Andrade @ Café Central, Trancoso

PROJECTO 22: Para este projecto fomos até ao Café Central em Trancoso onde 3 simpáticos senhores disseram alguns versos de Carlos Drummon de Andrade. No final ainda tivémos direito a petiscos gratuitos.
Realização e Edição: Nuno Lopes
Sonoplastia: Nuno Lopes
Selecção de Textos e Produção: Liliana Coimbra

Uma pedra no meio do caminho ou apenas um rastro, não importa. Estes poetas são meus. De todo o orgulho, de toda a precisão se incorporam ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo. Que Neruda me dê sua gravata chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski. São todos meus irmãos, não são jornais nem deslizar de lancha entre camélias: é toda a minha vida que joguei.

Estes poemas são meus. É minha terra e é ainda mais do que ela. É qualquer homem ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna em qualquer estalagem, se ainda as há. – Há mortos? há mercados? há doenças? É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras, por que falsa mesquinhez me rasgaria? Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas. O beijo ainda é um sinal, perdido embora, da ausência de comércio, boiando em tempos sujos.

Poeta do finito e da matéria, cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas, boca tão seca, mas ardor tão casto. Dar tudo pela presença dos longínquos, sentir que há ecos, poucos, mas cristal, não rocha apenas, peixes circulando sob o navio que leva esta mensagem, e aves de bico longo conferindo sua derrota, e dois ou três faróis, últimos! esperança do mar negro. Essa viagem é mortal, e começa-la. Saber que há tudo. E mover-se em meio a milhões e milhões de formas raras, secretas, duras. Eis aí meu canto.

Ele é tão baixo que sequer o escuta ouvido rente ao chão. Mas é tão alto que as pedras o absorvem. Está na mesa aberta em livros, cartas e remédios. Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua, o uniforme de colégio se transformam, são ondas de carinho te envolvendo.

Como fugir ao mínimo objeto ou recusar-se ao grande? Os temas passam, eu sei que passarão, mas tu resistes, e cresces como fogo, como casa, como orvalho entre dedos, na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte, e te desejo e te perco, estou completo, me destino, me faço tão sublime, tão natural e cheio de segredos, tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina, o povo, meu poema, te atravessa.

Carlos Drummond de Andrade